Coluna do Castello    
 

O Tancredo-já e os cinco candidatos

O novo movimento pela eleição direta em 1984, articulado pelos moderados do PMDB, mas com o irrecusável apoio de todas as correntes partidárias e das agremiações oposicionistas, pode ser chamado de Tancredo-já ao invés de direta-já. É claro que a proposta lançada pelo Governador Franco Montoro tem como ponto de força a hipótese de que o lançamento prévio de um candidato único, para exorcizar fantasmas, estimulará pedessistas indecisos a completar o quorum de dois terços que marquem para outubro deste ano a eleição que o Presidente Figueiredo, para atender injunções da sua base militar, quer que se realize somente em 1988.

Mas a candidatura Tancredo se pode ser a vara de condão para mudar as tendências no Congresso e obter até mesmo o consentimento do Presidente da República, não se esgota na votação da subemenda encaixada na emenda Figueiredo, que, em bloco, é objeto das sondagens do Vice-Presidente Aureliano Chaves e das articulações que, inspiradas na Casa Civil da Presidência, são conduzidas pelo líder Nelson Marchezan com a discreta participação do Senador José Sarney.

A candidatura Tancredo se exprime o desejo da grande maioria do PMDB, a ponto de desestimular as aspirações do Sr Ulysses Guimarães, que teve a elegância de não se colocar como um obstáculo no caminho do seu velho companheiro, ainda não é uma candidatura consagrada, embora se saiba que, na chamada sociedade civil, ela é tida como uma alternativa conciliatória perfeitamente aceitável. Também entre os militares, que, em pesquisas mais antigas, manifestaram preferência pelo nome do Sr Aureliano Chaves, a candidatura do Governador de Minas é tida como uma solução satisfatória e equilibrada, de modo a remover receios e ressentimentos.

O Sr Aureliano Chaves, que desenvolve uma auscultação em profundidade das lideranças políticas, mantém-se na expectativa de ser o beneficiário da decisão do Presidente da República na medida em que o chefe do Governo pretenda reunir forças para derrotar o Sr Paulo Maluf na Convenção e assegurar assim para o seu partido a indicação do seu sucessor. Mas não é pacífico que o Presidente leve sua resistência ao ex-Governador de São Paulo a atitudes extremas. Ele poderá conformar-se com a decisão do PDS se for indicado pela Convenção do Deputado Maluf, cujo triunfalismo estratégico lançou desconfianças sobre o potencial eleitoral, no partido, do Ministro Mário Andreazza.

A candidatura de consenso em torno de Aureliano ou de Tancredo continua como hipótese desejável por fortes correntes políticas, mas ela não andará sem o expresso consentimento do Presidente da República. Minas; alimenta a expectativa de uma união interna, difícil, mas não improvável, mas sem o aval do Palácio do Planalto qualquer candidatura será candidatura de luta para disputar a eleição direta ou a eleição indireta. A expectativa que se adensa é de uma luta, no Colégio Eleitoral, entre os Srs Tancredo Neves e Paulo Maluf.

O fato, porém, é que os candidatos políticos não esgotam o panorama sucessório. Nele continua plantada a hipótese da prorrogação do Presidente Figueiredo para completar as reformas e modificar a gestão econômico-financeira. O Presidente pediria tempo para concluir bem seu governo, ameaçado de encerrar-se de maneira pouco lisonjeira para suas aspirações iniciais. Os presidenciáveis, hoje, são, portanto, os Srs Paulo Maluf, Mário Andreazza, Aureliano Chaves, Tancredo Neves e João Figueiredo. A quinta hipótese enriquece o quadro e, malgrado todos os desmentidos, continua enraizada na mente de políticos experientes, afastados ou próximos do Presidente, como, por exemplo, o Ministro Golbery do Couto e Silva e o Deputado Magalhães Pinto.

A ambos esses personagens, parece claro, no emaranhado em que se transformou a política oficial, que o Presidente Figueiredo deseja permanecer por mais algum tempo no Governo. O Ministro Golbery, como se sabe, inspira estratégias e táticas para dissuadir desse propósito o Presidente cuja ascensão política foi fruto da sua imaginação e do poder de decisão do ex-Presidente Ernesto Geisel.

Quatro meses dramáticos
O Deputado Thales Ramalho prevê que se, em setembro, o PDS escolher o Sr Paulo Maluf como seu candidato a Presidente da República, sem que, em contrapartida, não haja uma sólida articulação em torno de uma alternativa viável, o país entrará num período de crise de efeitos imprevisíveis. Entre a data da Convenção dos partidos e a data da reunião do Colégio Eleitoral há um período de quatro meses durante os quais a nação brasileira, em manifestações que deixariam na sombra os comícios pró-direta, manifestaria seu repúdio ao candidato do Governo. E poderá manifestar-se, ao contrário do que ocorreu nos comícios pró-direta, de maneira extremamente violenta.

Para Thales, enfim, o Sr Paulo Maluf, se consagrado pelo Colégio Eleitoral, somente tomaria posse custodiado por severa formação militar em terra, no ar e no mar.

Carlos Castello Branco

 
Jornal do Brasil 27/05/1984