Coluna do Castello    
 

Problemas da imagem

De volta da Europa, França e Bahia, o Sr. Rondon Pacheco declara ter encontrado no exterior, junto às organizações financeiras internacionais, uma boa imagem do Brasil, a qual sem dúvida faz justiça aos esforços do Govêrno no sentido de promover boas finanças mantendo e acelerando os estímulos ao progresso econômico. Êsse depoimento do Governador de Minas não constitui propriamente uma revelação, pois êle reproduz depoimentos de outras personalidades que têm percorrido ultimamente nações européias. Confirma-se, portanto, que do ponto-de-vista econômico-financeiro projeta-se lá fora uma boa imagem do nosso país, a qual não foi afetada pelos outros aspectos de nosso retrato feito pela grande imprensa mundial.

Observa o Sr. Rondon Pacheco que também a imagem política melhorou um pouco, por efeito das eleições realizadas no fim do ano passado, embora não se possa dizer que ela seja totalmente positiva. Seria o caso de perguntar ao presidente da Arena se êle já considera satisfatório o nível democrático das instituições políticas vigentes no país. Ou se, registrando as melhorias observadas, não entenderia êle que, tanto mais evoluísse o regime brasileiro no rumo de sua adequação ao modêlo democrático, tanto mais positiva será a imagem que, pelo menos sob os aspectos enfocados, traduz realidades irrecusáveis.

De qualquer forma, é animador que os aspectos positivos da situação brasileira de hoje comecem a se impor para esbater as sombras que embaciavam lá fora a visão do nosso país. Fica-se sabendo pelo menos que não há empenho sistemático da parte dos jornalistas e dos principais jornais da Europa em divulgar manifestações negativas de um estado complexo e difícil. A imprensa procura informar-se, esclarecer-se para, por sua vez, informar e esclarecer a opinião pública em nações onde ela atua como uma fôrça viva junto aos órgãos de direção nacional.

A melhor política em relação à imprensa ainda é a do livre acesso às fontes de informação, a da liberdade de divulgação e a de nada deixar numa faixa de incertezas e imprecisões. O Ministro Mário Andreazza acaba de dar, no caso da Ponte Rio—Niterói, unia viva demonstração da capacidade que deve ter um Govêrno de enfrentar informações prejudiciais, aceitando o desafio e o debate e pondo na mesa os dados de que dispõe como contribuição ao esclarecimento da opinião pública. Outros dados poderão ser fornecidos por interessados, mas o fato é que o Govêrno não fugiu às suas responsabilidades. Antes, as assumiu na sua totalidade, com desassombro e energia.

Voltando ao problema da imagem externa, deve-se observar que a conduta do Govêrno brasileiro com relação aos sequestros estará contribuindo para dar de nosso país e de nossas autoridades uma visão mais otimista, pois de tudo ressalta que, sôbre eventuais radicalismos, se impõe no Govêrno a consciência de deveres humanos e dos deveres para com a comunidade internacional. Há, em episódios como os sequestros, numerosos aspectos indicativos de dificuldades, que não são todavia exclusivas do nosso país nem do nosso regime. O que importa, portanto, para julgamento global, é a atitude do Govêrno diante de suas responsabilidades mais altas e sua capacidade de enfrentá-las, dando-lhes a solução adequada.

Em outros pontos, todavia, fôrça é admitir que se registram retrocessos com dano específico para a projeção do nosso conceito internacional. E o problema situa-se precisamente no setor da imprensa, que atravessa situação difícil em face da crescente incompreensão relativamente aos deveres do jornalista e à necessidade de dar-lhe as garantias indispensáveis ao exercício da sua missão. Uns poucos fatos são capazes de trabalhar contra nosso país de modo a sublinhar exageradamente os aspectos negativos da nossa instabilidade institucional. Há um problema agravado entre o regime brasileiro e a imprensa, em função do qual estarão se ampliando e aprofundando restrições quanto à evolução da política brasileira para uma etapa mais promissora de afirmação dos direitos humanos e das liberdades públicas.

Carlos Castello Branco

 
Jornal do Brasil 16/01/1971