Coluna do Castello    
 

Previsões sôbre a suspensão do recesso

Brasília (Sucursal) — Um dos vice-líderes do Govêrno na Câmara, dos fiéis, declarou ter encontrado no Rio, nos gabinetes oficiais, atitude otimista com relação à possibilidade de breve reabertura do Congresso. O vice-líder, no entanto, por ser dos fiéis, é estritamente realista e, portanto, não acredita que o otimismo esteja fundado nos fatos. Por isso, não se deixou contagiar pelo que ouviu de membros do Govêrno.

Entende êsse deputado que o reimplantado processo revolucionário não é um processo a jato, mas tem sua dinâmica própria e tem sua própria cronologia. As medidas de expurgo político e outras consumirão algum tempo e só ao fim delas é que se examinarão os pressupostos da retomada do sistema institucional. Qualquer previsão de próxima restauração da ação política lhe parece precária.

Não acreditando no reinicio em 1969 das atividades do Congresso, o vice-líder admite que tal fato se refletirá sôbre a atitude dos políticos por um tempo mais amplo. 1970 seria o ano em que normalmente se tomariam as providências de caráter eleitoral, que envolvem emprêgo de tempo e de recursos pecuniários. Em tal situação, quem irá se dispor a visitar bases eleitorais e a empenhar dinheiro na preparação de sua reeleição? O que lhe parece, portanto, mais aconselhável é que cada um encerre sua expectativa e se devolva às atividades privadas para recompor-se na profissão ou nos negócios até que haja sinal certo de retomada do processo político.

O vice-líder abunda em argumentos para justificar sua atitude diante do futuro próximo.

Em 1969 — diz — a atividade política estará contida sem dúvida alguma.

A restauração se lhe afigura impossível. Que faria um Congresso reaberto em meio à desconfiança dos que dirigem a Nação neste momento? Se o Govêrno decidisse suspender o recesso do Congresso, seria apenas na expectativa de reuniões formais e de sessões nominais. O Congresso, na atual conjuntura, não teria a menor condição de influir nas decisões do Govêrno e na vida do país. Lembra que, nos dois últimos anos, Câmara e Senado lutaram até ao exagêro para conquistar uma margem razoável de influência nas decisões políticas, Nas atuais circunstâncias, qualquer luta com tal objetivo estaria prèviamente condenada.

No entanto, à margem da opinião dêsse Deputado, persiste em esferas parlamentares a expectativa da reabertura do Congresso em março, quando já então estaria concluída a nova ação revolucionária. Argumenta-se que está na linha do interêsse do Presidente da República a próxima reconstituição dos podêres públicos de maneira a que se reencontrem os caminhos da normalidade. Obrigado pelos acontecimentos a abandonar essa linha, o Marechal Costa e Silva se empenharia no retôrno a ela o mais rápido possível.

Outras dificuldades
Não há ainda definição do Govêrno com relação à situação dos Partidos, cuja extinção parece ser pleiteada em alguns setores oficiais. A tendência natural do Presidente da República, a que está na linha da sua tradição política, seria a de deixar o quadro político como está realizadas apenas as modificações necessárias, as resultantes revolucionárias e as de reorganização do comando da Arena determinadas pela renúncia do Senador Daniel Krieger.

No entanto, o ponto-de-vista atribuído ao Ministro da Justiça, segundo o qual se deveria abrir caminho para a constitução de novos Partidos com base no que dispõe o estatuto partidário, parece mais ajustado à tarefa que ora se oferece ao comando revolucionário e ao próprio Govêrno, que não encontrou na Arena o instrumento adequado a realizar-se politicamente dentro de objetivos revolucionários.

Há evidentes problemas de reajustamento da Revolução com os quadros políticos, que afetam desde a sobrevivência da Constituição de 1967 até a escolha de novos líderes. Todos êles deverão estar resolvidos, ou pelo menos equacionados, antes que o Govêrno se decida a convocar o Congresso, se é que as conclusões do debate o levem a êsse caminho.

Os papéis do MDB
O Sr. Martins Rodrigues, no seu gabinete de Secretário-Geral do MDB, entrega-se ao trabalho de ordenar os papéis. São livros de atas de reuniões da Executiva e de convenção, são fichários, notas e pronunciamentos partidários, etc. Ele está examinando o acêrvo, classificando, organizando, possìvelmente para mandar arquivar tudo.

Em meio a êsse trabalho, o Sr. Martins Rodrigues recebeu um telefonema do líder Mário Covas, que se acha em Santos. O líder dizia-lhe que voltará na próxima semana.

— Se você tem o que fazer aí, vá ficando — disse o Sr. Martins Rodrigues — porque aqui não há nada a fazer.

O plenário da Câmara
Há a idéia de alterar o plenário da Câmara dos Deputados. Durante as obras, as sessões se realizarão, se fôr o caso, no chamado Salão Prêto, o salão de honra que terá de ser prèviamente preparado para isso. O arquiteto Oscar Niemeyer apresentará os dois projetos, o da adaptação do Salão Prêto e o do nôvo plenário.

Carlos Castello Branco

 
Jornal do Brasil 11/01/1969